A fórmula de Call of Duty: Black Ops Cold War

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Call of Duty: Black Ops Cold War teve um antecessor de muito sucesso, o remake polêmico, embora celebrado de Call of Duty: Modern Warfare. A série como um todo sempre teve uma recepção muito positiva pela audiência, mas a critica não deixa de pontuar as imprecisões do jogo.

Por ser tratar de uma franquia que se baseia em momentos históricos – em guerras factuais pra ser mais exato – o game tem certa responsabilidade ao contar suas histórias. Mas ao falar sobre momentos sensíveis dos conflitos globais, CoD apresenta narrativas favoráveis aos norte-americanos. Eu nem preciso dizer onde é que o jogo mais vende no mundo, né?!

Mas atrelado a essa, no mínimo, controversa “versão dos fatos” há um jogo competente em suas mecânicas e que agrada os fãs de FPS. Então vamos falar um pouco mais sobre Cold War e como a Activision trata a franquia hoje em dia.

Salve a América. Salve o mundo!

Call of Duty é uma franquia que nasceu no PC e só depois migrou para os consoles. Hoje já são dezenas de títulos, entre obras originais, remasterizações e remakes, e todos sempre lidaram com a guerra. Muito da mensagem de CoD é justamente sobre esse ‘Chamado ao Dever’, o que o torna muito apelativo ao subconsciente do norte-americano. Mas a franquia está longe de ser complexa. Ao jogar a maioria dos jogos de CoD, você se sente como num filme de Michael Bay, que é um diretor com discurso “America Salva o Mundo” bem parecido com CoD. No resumo, você sempre é parte dos heróis (soldados, agentes da CIA, etc) anônimos, que tem que fazer escolhas questionáveis, carregando o peso do mundo em suas costas, mas que no final lutou pelo bem maior para a humanidade.

Claro que há pontuais exceções na construção dos personagens da franquia. Não raramente existem tramas dentro dos jogos que envolvem traição e agentes duplos. Mas tudo sempre caminha para o happy ending de filmes de ação envolvendo guerras e heróis americanos. Nunca é uma crítica aos métodos utilizados por essas forças especiais ou mesmo pelos rumos históricos retratados. E Black Ops Cold War não foge muito a essa fórmula. Afinal, se deu certo até agora, porque mudar, né? Há muitas implicações aqui, mas não vou me aprofundar, não tenho traquejo pra isso. Para um aprofundamento nas questões que envolvem jogos de tiro, recomendo o artigo ‘Porque as armas ainda são a norma nos videogames?‘, de Henrique Sampaio (Overloadr); e o episódio ‘Tiros Na Cabeça: Videogames, Headshots e Necropolítica‘ do podcast Regras do Jogo, de Fernando Henrique.

Minha pequena reflexão aqui é sobre o modelo adotado pela Activision para vender CoD: Black Ops Cold War. E como a audiência tem abraçado isso tão fortemente e consolidado algo que tinha “dado errado” com Destiny.

O que a Activision aprendeu com Destiny?

Destiny sempre foi muito criticado por causa do seu modelo de vendas em expansões. Claro que há muitos outros motivos que acabaram dificultando a aceitação da franquia pelos menos inclinados a explorar o universo dos guardiões. Eu comprei a ideia do jogo desde o inicio e me divirto nele até hoje. Mas eu sei que seu modelo fraturado de negócios, meio que “feito nas coxas”, foi um dos principais motivos para o afastamento de muitos do game.

Calma, eu sei que esse é um texto sobre Call of Duty, mas é importante essa contextualização para eu poder seguir com a ideia.

A Activision queria extrair o máximo do ‘suco’ Bungie, quando a retirou da franquia Halo, mas prometeu liberdade criativa para os desenvolvedores. Bem, sabemos o que acontece quando tem muita grana envolvida: as paradas prometidas não saem lá muito bem como no inicio do relacionamento. E o combinado de ter 4 jogos lançados durante os 10 anos de contrato com a Activision, foi por água abaixo. Então, encurtando a história, o modelo de expansões foi adotado. Ainda mais porque o jogo foi lançado com a história inacabada e com muitos furos e pouco conteúdo. Esse modelo acabou se mostrando uma saída para ir tapando esses buracos e diversificando o conteúdo. Você pode ver tudo isso explicadinho AQUI no vídeo do Carpenedo, onde fala sobre todos os problemas que a Bungie teve com o desenvolvimento de Destiny.

Eu comecei a jogar Destiny ainda no PS3, na expansão O Rei dos Possuídos e tive alguns dos meus melhores momentos jogando videogame nesta expansão.

Não estou aqui pra criticar o modelo em si e nem defendê-lo. Sempre recomendei pro pessoal que não é entusiasta de Destiny, mas que queria jogar certas expansões, não compra-las no lançamento, porque sempre caem de preço depois de uns três meses. Mas o interessante deste modelo é que deu um gás para o jogo e pode dar a oportunidade para a Bungie testar o que funcionava e o que não funcionava. As expansões são anuais, então além do jogo base, se você quer aproveitar o conteúdo novo, deve pagar o valor de toda nova expansão, todo ano.

E ai chegamos a fórmula hibrida que a Activision achou e que desde Modern Warfare tem sido aplicada a franquia Call of Duty.

A fórmula de Call of Duty: Black Ops Cold War

Hoje o core da franquia Call of Duty é Warzone. Eu já joguei e tenho certeza que você ao menos flertou com este  battle royale. Gratuito e disponível em quase todas as plataformas atuais, ele se tornou uma febre, aliando o ponto forte da franquia que é o gameplay competente com conteúdos cosméticos que vão desde uma skin para sua arma até personagens de filmes de terror.

Mas o grande lance foi coloca-lo como um produto “alocado” a todos os jogos recém lançados de CoD. Eu acredito que isso irá perdurar por algum tempo, enquanto o modelo não demostrar um declínio. Pude experimentar as duas últimas campanhas de CoD, Modern Warfare e Black Ops Cold War, e como eu disse mais acima, elas se assemelham muito a filmes de ação e são relativamente curtas. Então, se você compra o jogo apenas por elas, embora competentes no que se propõe a sua audiência, pode não valer o preço.

Mas há outros conteúdos no jogo, como o Multiplayer – que é onde CoD brilha pra mim – e o Modo Zumbi. Ambos são extensões da sua vontade de continuar descendo bala, e se você é uma pessoa que gosta de competir e se provar no PvP, Call of Duty é uma das franquias que tem um das melhores gunfights da atualidade. Já o modo Zumbi, pra mim é até interessante e uma maneira descompromissada de jogatina, mas não há grandes destaques mais nesses modos hordas há algum tempo, e esse não é exceção.

Mas qual é essa fórmula de Destiny que Call of Duty também está aplicando?

Destiny adotou o modelo free-to-play, então se você quer jogar Destiny é só baixar e se divertir. O jogo está na maioria dos consoles e te da bastante conteúdo para se divertir diariamente com seus amigos. Mas há também conteúdo pago: as expansões e temporadas.

As expansões são anuais e custam em média R$120, te dando acesso a novas histórias no universo de Destiny, missões extras, novas subclasses, novas armas e armaduras. Já as temporadas, contam com um passe, assim como em Fortnite, Apex e no próprio Warzone. Eles tem duração de mais ou menos 4 meses e custam em média R$30 dependendo da plataforma onde estiver jogando, te dando acesso a atividades sazonais, novas armas e amaduras, além de ter o desenrolar de uma nova narrativa durante e só na temporada correspondente, não podendo ser jogada depois.

Call of Duty, desde Modern Warfare, tem entregue um novo jogo por ano, onde conta uma história nova e, como conteúdo extra, acaba adicionando skins, personagens e até um pequenos lore as temporadas de Warzone que, como eu disse, hoje é o core da franquia. Tudo isso, nada mais é do que o modelo de Destiny, mas ao invés de trazer uma expansão, acrescentando uma história nova todo ano (e cobrando mais barato por isso), eles te dão um “jogo novo” com preço cheio.

Claro, há os modos atrelados ao jogo, como o Multiplayer e o Zumbi, mas tudo isso também poderia ser trabalhado através dos passes de temporada de Warzone.

Tenho várias ressalvas quanto as histórias contadas nos jogos da franquia CoD, vocês puderam ver algumas ao longo do texto. Mas confesso que amo o multiplayer e acho a gameplay de Call of Duty muito bem executada.Os times de desenvolvimento da Activision, Treyarch, High Moon, Raven e Beenox, estão de parabéns (embora os consoles base da já “antiga geração”, tenha apresentado algumas falhas no carregamento de texturas)!

Pra mim, se a Activision pretende ser mais honesta com sua audiência, deveria ao menos considerar aproximar-se do modelo de Destiny futuramente e assim economizar uns trocados da galera. Aliado ao bom gameplay e – quem sabe – histórias com conteúdos menos enviesados, Call of Duty pode ser uma franquia ainda maior.

Call of Duty: Black Ops Cold War está disponível para PS5, PS4, Xbox One, Xbox Series X|S e PC.

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Eddy Venino

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